Vamos falar sobre… Ansiedade de separação

Depois da quarentena, e depois de tantos meses em casa 🏠 com os pais – as pessoas que as crianças mais amam no mundo – é normal que haja ansiedade de separação, agora, no regresso à escola.
Mas… o que fazer quando essa ansiedade não passa? Quando a ansiedade começa a alterar e a condicionar a vida da criança? Quando a criança começa a ter alterações na fome, no sono, no bem-estar?

Antes de mais, é importante perceber se existe alguma coisa que possa estar a causar a recusa da criança em ir à escola. Como é a relação com a educadora de infância ou professora, e com os amiguinhos; qual é a alimentação dada e como é dada; caso haja ainda sesta, onde esta é feita e em que condições (de iluminação, temperatura, aconchego); quais são as rotinas e horários e se são muito diferentes daqueles a que a criança está habituada…
Todas estas questões podem ser fonte de ansiedade e não estarem a facilitar o processo de (re)adaptação.

Para isso, os pais devem sentir-se totalmente confortáveis para fazer todas as perguntas à educadora de infância ou professora, esclarecem todas as dúvidas que tenham e falarem sobre os seus receios, para que não vos sobrem dúvidas de que o vosso filho fica, de facto, em segurança e de que é tratado com amor. Questionem acerca das rotinas, o que é feito quando o vosso filho fica a chorar, quando não come, quando não dorme (se lhe é dada atenção, ou se esse comportamento é ignorado pelo adulto, aumentado a frustração, quando a criança no fundo precisa de colo)…

A educadora ou professora perceberá que não é desconfiança por parte dos pais, mas que vocês querem ter um papel activo e contribuir de forma positiva para a adaptação do vosso filho ao colégio.

Vamos lá, agora, a 7 sugestões práticas, que poderão ser facilitadoras:

  1. Se possível (principalmente para os mais pequeninos), alternar o horário de ir buscar a criança e fazer uma adaptação progressiva. Por exemplo: Nos 2 primeiros dias, deixar a criança só 1 hora na escola; nos 2 dias seguintes, ir buscar ainda antes do almoço; nos 2 seguintes, logo a seguir ao almoço; nos 2 seguintes já deixar para a sesta… Respeitando o ritmo da criança. Isso ajudará a criança a sentir que o tempo até passa depressa.
  2. A brincar, com bonecos, simular a situação que cria ansiedade – a separação da mãe/pai. E entrar no jogo simbólico…
    “O menino tem de ir para a escola. Vamos levar o menino à escola, filho? A mamã tem de ir trabalhar. O menino vai brincar com os amigos!”
    Mostrar a rotina da mãe-boneca enquanto o filho-boneco fica na escola. Nesse momento, falar das emoções do boneco e incentivar a que a criança se expresse, neste lugar seguro do faz-de-conta.
  3. Outra sugestão é fazer um planeamento ou horário semanal, onde se esquematiza a rotina da família nessa semana. É importante que a criança faça parte do planeamento, e que este inclua imagens, para que a criança consiga visualizar o seu dia. Todos os dias assinala-se a ida à escola, mas no final do dia algo espectacular vai acontecer quando a criança voltar da escola. Alguns exemplos podem ser:
    Segunda-feira – ir passear à praia;
    Terça-feira – realizar uma actividade de expressão plástica;
    Quarta-feira – vamos jogar à bola no jardim;
    Quinta-feira – fazemos juntos uma actividade de jardinagem;
    Sexta-feira – construímos um puzzle.
    Não se esqueçam de escolher as actividades que os vossos filhos realmente gostam.
    E, assim, até pode custar um bocadinho ir à escola, mas saber que logo, logo vai acontecer algo incrível, vai tornar o dia muito mais feliz. E a estruturação de ter a semana planeada também retira bastante ansiedade, e dá à criança uma noção temporal mais real.
  4. Utilizar um objecto de transição e securizante para a criança. Pode ser um boneco ou um simples desenho de um coração na mão da criança e da mãe/pai, e explicar à criança que pode procurar algum conforto nesse objecto ou desenho quando sentir muitas saudades. É importante fazer isto de forma a que a criança perceba.
    Algo como:
    “Quando tiveres saudades da mãe, olha para o coração na tua mão, e nesse momento eu também vou olhar para o meu, porque também vou estar com saudades tuas. Vamos estar distantes, mas unidos pelo nosso amor”.
    Se for um boneco, incentivar a criança a abraçar o boneco ou dar-lhe um beijinho sempre que sentir saudades dos pais.
  5. Dizer sempre a verdade e cumprir o prometido – se prometem que vão buscar o vosso filho logo depois do almoço, é mesmo importante que o cumpram.
  6. Ter um discurso sempre positivo quando falam da escola, mostrar o vosso entusiasmo em relação às brincadeiras e actividades da escola, trazer para casa algum desenho ou trabalho que a criança tenha feito na escola e mostrar à criança o quão bom foi ter ido à escola naquele dia.
  7. Não permitir que o vosso filho vos seja “arrancado do colo”. Se a escola permitir, apesar das medidas de contingência actuais, a permanência de um dos pais na creche (mesmo que seja no recreio/espaço exterior), seria bom, durante algumas horas nos primeiros dias, o adulto entrar com a criança, ficar um pouco a brincar com ela, esperar que a criança se habitue ao espaço, e perceba que aquele é mesmo um espaço seguro e de que os pais nunca o deixariam ali se isso não fosse mesmo verdade. Acima de tudo, é importante existir uma despedida consentida. A criança não fica feliz por os pais se irem embora, mas sabe, porque lhe explicaram, que é o melhor para ela naquele momento e o tempo vai mesmo passar a voar.

Sim, mamã e papá, sabemos que vocês também têm de ser fortes. Por mais que estejam a sofrer por dentro, é importante normalizar a situação, transparecerem tranquilidade.
Para vocês, pais, é mesmo importante que se sintam seguros na vossa decisão, confiarem na escola a 100%, de modo a que não passem essa ansiedade para o vosso filho.

É importante também, sempre, manter abertas as linhas de comunicação com a criança, valorizar os seus sentimentos e incentivar a que ela se expresse.

E prometemos que, em breve, tudo voltará a ficar bem 💛

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