Piaget, Wallon, Vygotsky. Todos falaram dele, estudaram-no e colocaram hipóteses. Observaram a criança e a forma como aprendia. Criaram teorias.
Mesmo que algumas das suas ideias possam ser hoje questionadas, o facto é que as suas teorias ajudaram a compreender a forma como as crianças aprendem e se desenvolvem. Estas teorias ainda são estudadas nas universidades (nós estudámo-las durante a nossa formação académica) e servem de base para a nossa compreensão acerca do Desenvolvimento Cognitivo, e dos processos que dele fazem parte.
Então, afinal: o que é o Desenvolvimento Cognitivo?
Sendo a cognição a forma como uma pessoa absorve e processa o conhecimento, o Desenvolvimento Cognitivo é, então, o processo pelo qual se adquire conhecimento. O Desenvolvimento Cognitivo no bebé é o processo que envolve o aparecimento e o crescimento da sua capacidade de pensar, de compreender e, portanto, de aprender.
Em termos científicos, na análise do cérebro que aprende, sabemos que os neurónios são as células do sistema nervoso e, portanto, são a unidade básica da estrutura cerebral. E as sinapses são as ligações estabelecidas entre neurónios, a forma como eles comunicam.
A formação das sinapses e a criação de novas redes neuronais está muito relacionada com capacidade de aprender e, portanto, com o Desenvolvimento Cognitivo.
E o que será que influencia o Desenvolvimento Cognitivo?
Dois factores sobre os quais a ciência está de acordo no que respeita à influência no Desenvolvimento Cognitivo: a Genética e o Ambiente.
Mas qual dos dois factores tem maior influência? Como os dois se relacionam na determinação do desenvolvimento do indivíduo? O desenvolvimento da criança será determinado cultural ou geneticamente?Falamos aqui da relação entre o inato e o adquirido (nature-nurture).
A abordagem ambientalista baseia a sua premissa na ideia de que o ambiente (isto é, as condições e experiências de vida) é o principal responsável pela formação das características básicas do ser humano, especialmente das suas competências intelectuais (todos já ouvimos falar na teoria da tábua rasa de Locke, certo?).
Por outro lado, a abordagem nativista refere-se à prevalência da importância na herança biológica, recebida pelos pais, e considera que as características básicas da criança (a sua inteligência, personalidade, traços físicos, …) já estão formados ao nascimento.
Esta abordagem defende que o Miguel é inteligente porque o pai também é, e a Rita gosta de ler porque a mãe é escritora. Já dizia o ditado popular: “filho de peixe sabe nadar”. Será?
Certo artigo científico explica os vários erros desta abordagem. Um desses erros é que o que passa para os filhos através das células sexuais dos pais não são caracteres, traços ou características, mas sim informação genética. E não há genes que tornem alguém um músico ou cientista.
Então como acontece a aprendizagem? Esta é influenciada pela genética, ou pelo ambiente?
O mais factual é admitirmos que, segundo a ciência, ambos têm influência. A genética e o ambiente interligam-se no Desenvolvimento Cognitivo do bebé e da criança, e nenhum pode ser excluído.
Qualquer comportamento resulta de interações complexas entre predisposições genéticas e influências ambientais, e tem de existir um reconhecimento da inseparabilidade entre os dois factores.
Mas importa perceber que a genética, naturalmente, não pode ser escolhida nem alterada.
E no que se refere ao ambiente? Bom, se o bebé nasce com um determinado número de sinapses provenientes da sua genética e das suas condições pré e peri-natais, faz-nos sentido depreender que todas as restantes sinapses que ele formará ao longo da vida serão provenientes do ambiente, e dos estímulos presentes no seu ambiente.
Portanto, sim, o ambiente pode e deve ser preparado para potenciar o desenvolvimento do bebé, dentro do seu desenvolvimento saudável.
Mas será que podemos dizer que existem ambientes ricos em termos de estimulação, e ambientes pobres?
Sim, podemos.
Se o bebé for colocado numa espreguiçadeira ou num outro local que lhe limite os movimentos, sem acesso a brinquedos adequados ao seu estadio de desenvolvimento, se o adulto cuidador não conversar com o bebé, não providenciar o colo necessário, se o bebé não for exposto a estímulos sensoriais… este é, com certeza, um ambiente pobre, que terá uma influência nula – ou até negativa – para o desenvolvimento do bebé.
Então como podemos providenciar um ambiente rico, que potencie o desenvolvimento do bebé e que se alie à sua genética para que ele possa alcançar o potencial máximo das suas capacidades?
Por adequar da melhor forma o ambiente, os estímulos (sendo que estímulos aqui refere-se a tudo o que o bebé possa ver, ouvir, tocar, sentir, cheirar, explorar…).
Assim, o ambiente deve, sobretudo, ser adequado ao bebé e estadio de desenvolvimento em que ele se encontra.
Num bebé recém-nascido este ambiente deve ser rico em colo, em carícias, em canções e conversas, em massagens, em banhinhos relaxantes… Tudo o que diga ao bebé: este mundo cá fora também é seguro, também é quentinho, também é aconchegante, como aquele sítio mágico de onde vieste.
À medida que o bebé cresce, um ambiente rico é aquele que contém as condições favorecedoras à aprendizagem, e que permite ao bebé ter condições seguras de exploração.
O bebé precisa, sim, do ambiente correcto para se desenvolver. Precisa dos estímulos correctos para se desenvolver de forma saudável.
Quando dizemos que o ambiente deve ser rico em estímulos para que o bebé se desenvolva, não queremos dizer que deve ser um ambiente cheio de brinquedos.
O que queremos dizer é que a interferência na provisão de estímulos ao ambiente deve levar em conta o estadio de desenvolvimento do bebé.
De facto, todas as mamãs interferem no ambiente, até de forma inconsciente. Fazem a preparação do ninho. Criam condições adequadas à chegada de um bebé. Quando o bebé começa a dar os primeiros passos, protegem as esquinas dos móveis para que o bebé possa brincar e explorar em segurança. Quando a criança entra na escola, a família providencia um espaço adequado para que a criança possa estudar e fazer os seus trabalhos de casa.
O natural é, portanto, que o ambiente vá sendo adaptado às necessidades da criança, à medida que ela cresce e se desenvolve.
Por isso, a adequação do ambiente e dos estímulos é natural e muito importante.
Mas isso tem de ser sempre super pensado e planeado?
Não: a grande maioria dos estímulos são naturais.
Por exemplo, diz-nos a evidência científica que um bebé recém-nascido prefere nitidamente certos estímulos, como faces e vozes, exibindo preferência típica pelos estímulos provenientes de um adulto afectuoso, como a voz da mãe e o olhar dirigido, sendo estes estímulos os mais eficientes para a evocação do sorriso nas primeiras semanas de vida.
O bonito na conclusão de tudo isto é sabermos que as experiências provenientes do ambiente nos primeiros anos de vida têm um grande impacto no futuro da criança, pois o cérebro cresce até 80% nos primeiros três anos. É, assim, fundamental que os pais e cuidadores promovam o desenvolvimento da criança durante esta fase – não achando que “ah, ele é tão pequenino, ainda não consegue fazer nada!”, ou “ele tem muito tempo para aprender”. Não, não tem.
Sendo assim, o que podemos assumir é que o comportamento aprendido, aquele que é absorvido pela interação com o ambiente, cria experiências que se registram na memória e contribuem para o aperfeiçoamento dos desempenhos subsequentes. Expormos os bebés aos estímulos adequados é, então, fundamental para um saudável desenvolvimento cognitivo.
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